domingo, 23 de março de 2014

Eu te confesso que tenho um porão escondido dentro de mim. Vez ou outra eu revisito pra checar se a umidade já corroeu as vigas, as dobras das portas, as frestas do assoalho. Na maioria das vezes eu espirro por conta da alergia e não tem ninguém ali me oferecer um lenço. Tudo bem, sou precavido, tenho levado o meu há anos a fio quando aprendi que a gente tem que se embalar na gente senão a coisa toda despenca. Mas olha, eu faria do meu escuro um lugar bonito pra você me visitar. Limpo tudo e deixo as coisas boas em cima dos móveis e um porta-retrato de nós dois. Não precisa vir hoje ou nem amanhã. Só vem um dia e me tira dessa cidade perdida, dessa confusão que implica em me deixar com dois cigarros na rua e uns pensamentos que cortam, me tira desse conformismo absurdo e me afunda. Me afoga, me enforca, me joga do alto de um edifício, mas não me deixa viver essa coisa que não me deixa ver todas as coisas boas que os seus olhos castanhos contam. Só vem um dia, larga as malas na porta, bota o pé pra dentro de casa e cuida de mim.

Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre
Se a lenda dessa paixão, faz sorrir ou faz chorar. O coração é quem sabe